Nunca fui fã de "Jornada nas Estrelas". Só sabia algumas coisas sobre a série e seu universo peculiar por intermédio de outros filmes que parodiavam ou faziam citações da criação de Gene Roddenberry. Depois do término da série clássica nos anos 60, não podia parar. Os fãs clamavam por mais. E foi aí que Star Trek passou da TV para o cinema, com o filme dirigido por Robert Wise, em 1979. Com o seu sucesso, surgiram diversos outros prolongamentos, como "Deep Space Nine", "A Nova Geração", "Voyager", dentre outros filmes, como "A Ira de Khan" e o décimo filme, "Nêmesis". Sem contar games, brinquedos e diversos outros apetrechos trekkianos.

Com a nova moda de reboot que toma conta de Hollywood atualmente, tendo como maior sucesso o reinício da história do Batman por Christopher Nolan, não demorou para inovar no mundo de Star Trek também, onde decidiram mexer em um vespeiro, ao tentar contar a origem da tripulação da Enterprise e perturbar os inúmeros fãs existentes pelo mundo. J.J.Abrams, um sujeito que ganhou fama mundial ao criar a febre chamada Lost, não demoraria para entrar no ramo cinematográfico, seja produzindo (Cloverfield, por exemplo) ou dirigindo (Comandou a terceira aventura de Ethan Hunt, em Missão Impossível 3). Alegando não ser fã de Star Trek, mas interessado em se envolver no projeto e dirigir o próximo filme, aliado ao roteiro escrito em conjunto por Roberto Orci e Alex Kurtzman e com a ajuda do parceiro Michael Giacchino na trilha sonora, Star Trek acabou agradando muito, tanto aos fãs quanto aos neófitos.

Após tantas críticas positivas, fui assistir ao filme do Wise, para pelo menos saber alguma coisa a mais quando fosse assistir a essa nova aventura do Abrams. Apesar de visualmente fantástico e com idéias muito interessantes, além de um viés existencial, o filme tem um ritmo muito lento. Fiquei com uma impressão não tão boa após essa experiência. Então, tive a oportunidade de conferir esta nova versão e por incrível que pareça se tornou em um dos melhores blockbusters do ano, até o momento (Juntamente com Watchmen), repleto de ação e unindo sabiamente a ficção-científica propriamente dita com humor, dando um novo ânimo, sem desrespeitar o universo criado por Roddenberry.

O início já é grandioso, mostrando o ataque sofrido pela nave Enterprise por conta de uma imensa nave romulana, comandada por Nero (Eric Bana). O terrorista intergalático procura por Spock e acaba por matar o capitão George Kirk (Chris Hemsworth), onde tal sacrifício salvou diversos dos tripulantes, sua esposa e seu filho que nascera diante de tal guerra espacial. Este garoto é o famoso James T. Kirk, que viraria o capitão da nova Enterprise futuramente, mas seu comportamento rebelde e irresponsável é um contraste para o ar autoritário que teria depois e é mostrado durante o filme. Em outro planeta, Vulcano, assistimos à infância de Spock, um ser inteligentíssimo e ensinado para desprezar suas emoções, a fim de atingir o Kolinahr, o estado de perfeição vulcano ao agir apenas pela lógica e não pelas emoções. Esses dois personagens irão interagir ao acaso e o novo filme mostra como dois seres com comportamentos completamente diferentes e que se odeiam mutuamente iriam virar grandes amigos no futuro.


Além de contar sobre a juventude da tripulação da Enterprise, a trama se concentra também no já citado Nero e sua furiosa tentativa de vingar-se. Viagem no tempo também está presente aqui, um tema que J.J. Abrams adora e é trabalhado de uma maneira bastante competente. O ritmo do filme não pára em nenhum momento, empolgando os espectadores e nos divertindo com um elenco jovem e muito bem à vontade. O até então desconhecido ator Chris Pine é o responsável por dar vida à juventude de James T. Kirk e Zachary Quinto, mais conhecido por seu papel no seriado Heroes interpreta o jovem Spock, em duas ótimas interpretações. O restante do elenco foi muito bem escolhido, todos surpreendendo bem. John Cho, mais famoso pelos filmes da dupla Harold & Kumar, interpreta o destemido Sulu, mudando a imagem de bobalhão que tinha em relação ao ator. Karl Urban também impressiona no papel de um dos melhores amigos do Kirk, Bones McCoy, em um trabalho diferente do que costuma fazer. O jovem Anton Yelchin também demonstra personalidade ao interpretar o russo Chekov e Zoe Saldana adiciona o teor feminino à tripulação como Uhura. Eric Bana cria um vilão interessante também, Simon Pegg, no papel de Montgomery Scott, aparece bem tarde na trama, mas garante mais humor ao longa-metragem e conta com uma participação mais do que especial de Leonard Nimoy.

Em relação à trilha sonora, é muito bem realizada por Giacchino, em um trabalho formidável. Aliás, o trabalho de som desse filme poderia concorrer ao Oscar próximo ano, que estaria representando bem a categoria sonora. Um filme desse porte também não decepciona nos efeitos visuais, gerando cenas de ação que são muito bem coreografadas por J.J. Abrams. Aliás, com mais essa demonstração de talento do cara, já fico mais ansioso para conferir seus próximos projetos, dentre eles a adaptação de "A Torre Negra", saga criada por Stephen King em 7 livros.

O novo filme da franquia Star Trek acaba agradando a gregos e a troianos, fazendo uma homenagem sincera e muito bem conduzida à série clássica, com o devido respeito. Após gostar tanto desse trabalho, gostaria de seguir viagem e conferir os outros filmes, como o elogiado "A Ira de Khan". Star Trek versão 2009 é um filme imperdível, um blockbuster de verdade, garantindo diversão e uma qualidade impecável. Espero que apareçam continuações tão bem feitas como esse reinício. E pensar que o público lota os cinemas para ver Anjos e Demônios e, pelo menos na sessão que fui, só tinham 5 pessoas, contando comigo. Que pena!