TEXTO TIRADO DO BLOG DE ROEBRTO SADOVSKI, blogdosadovski.wordpress.com. O KAPOW PARA QUEM JÁ CONHECE.
Star Trek não é um filme perfeito. É infeliz em sua geografia, é exagerado em suas coincidências. Ah, e é também o melhor filme que vi neste ano que se aproxima da metade. Preciso apertar a mão de J.J. Abrams mais uma vez. De uma tacada só, ele ressuscitou uma série que, para todos os efeitos, morreu há mais de uma década, e também criou uma nova franquia do zero, fresquinha fresquinha, que vai nos levar (e eu sei que essa frase vai ser usada até enjoar) audaciosamente onde ninguém esteve antes.
Afinal, por que diabos o novo Star Trek é tão bom? Hmmm, eu poderia chutar que é pelo respeito ao que a saga criada por Gene Roddenberry significa para tanta gente. Mas não é só isso. O que Abrams fez foi criar uma aventura espacial de primeira, como John Whedon fizera com Serenity, e embalar em frascos conhecidos. Kirk, Spock, McCoy - todos figurinhas icônicas da ficção científica, aqui reapresentados como se fosse mesmo a primeira vez, para uma platéia que não faz idéia do que é o universo Trek. Dito isto, afirmar que Star Trek funciona que é uma beleza para não-iniciados é balela: o filme é coalhado de referências a capítulos anteriores, a termos que só os fissurados vão entender (velocidade warp? Por favor!). O brilhantismo de Abrams é que ele amarra o roteiro de maneira tão saborosa que tudo isso soa natural, soa novo. E soa como um ótimo negócio.
Daí, palmas para a Paramount, que armou este reboot depois que os últimos filmes, os protagonizados pela Nova Geração de Pickard, não fizeram nem marola. Na verdade, é hora de escancarar uma verdade aqui: apesar do carinho dos fãs, Star Trek no cinema sempre foi capenga ao extremo, entregue a sub-talentos, e nunca a uma equipe da primera divisão do cinema. Com a exceção do filme que Robert Wise dirigiu em 1979, uma trama contemplativa que falhou com o objetivo principal que era concorrer com Guerra nas Estrelas. Falhou miseravelmente. A partir daí, Trek gerou um semi-clássico (A Ira de Khan, que é tão bacanudo quanto tosco) e uma série de tranqueiras, que resistem ao tempo por seu valor kitsch. O novo Star Trek, por outro lado, é um filme de verdade, que utiliza o melhor da tecnologia cinematográfica atual para contar a história de dois homens, e de como seu destino espelha o futuro do universo.
Um deles é, claro, James T. Kirk - que deixa o charme cafona de William Shatner de lado para brilhar com Chris Pine que, se depender de Trek, vai longe. Nascido em meio a uma tragédia, quando seu pai assume o comando de uma espaçonave e se sacrifica para salvar sua tripulação, Kirk é um jovem sem propósito, que quer honrar a memória do pai que nunca conheceu, ao mesmo tempo que não suporta figuras de autoridade, como as da Frota. Depois de uma briga num bar, ele conhece Christopher Pike (Bruce Greenwood, um achado), que está recrutando cadetes. Kirk é convencido e parte para a academia.
O outro vértice é Spock (Zachary Quinto, o Sylar da série Heroes, mas eu prometo que você nem vai pensar nisso), nascido em Vulcano, dividido entre sua herança paterna e o lado de sua mãe, que é humana. Ele já é graduado pela Academia da Frota Estelar e, em seu mundo de lógica - para tentar suprimir o oceano de emoções movendo-se sob sua carapaça -, vê em Kirk e seu espírito livre um antagonista. O equilíbrio entre os dois é o que define a nova aventura, e também o destino do planeta. Abrams consegue com habilidade essa costura, usando um clichê (duas pessoas que se odeiam, mesmo destinadas a ser os melhores amigos) de maneira brilhante, fazendo com que a trama respire ao redor desse eixo.
A trama, por sinal, é simples - em termos trekkers. Nero (Eric Bana, ameaçador) é comandando de uma nave mineradora, uma espécie de caminhoneiro bronco que testemunha, um século e meio no futuro, seu planeta ser tragado pelo Sol. A culpa da tragédia recai sobre um enbaixador vulcano, muito velho e muito sábio (e muito conhecido), e em sua tentativa de vingança Nero cria uma fissura no tempo, que o traz ao passado (ao lado deste embaixador). É esse um dos grandes baratos do novo Star Trek: o vilão tem motivações simples, porém palpáveis. Longe de ser um gênio do mal, é um homem (ou romulano) comum, que vê o tempo amadurecer seu desejo de vingança, firme até o final.
Em meio à resolução da trama, somos apresentados à tripulação da Enterprise, reunida pela primeira vez. McCoy, ou Magro, é interpretado por Karl Urban (O Senhor dos Anéis) em um registro assustadoramente semelhante ao de DeForest Kelley, seu intérprete na série clássica. Fuinciona que é uma beleza, e ainda bem que Urban foi o único que seguiu os passos do ator que foi dono de seu personagem. Cada um dos outros imprimiu novas nuances a figuras já icônicas. Como Zoë Saldana (que será vista no fim do ano em Avatar), que faz uma Uhura sexy e determinada, protagonista do mais improvável romance da nova Enterprise; John Cho (da série Harold & Kumar) funciona perfeitamente como Sulo, em especial numa cena de ação inacreditável ao lado de Kirk/Pine; o engenheiro Montgomery Scott torna-se um bem vindo alívio cômico nas mãos de Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto); e Anton Yenshin (que em breve estará em cartaz em mais uma ficção científica, O Exterminador do Futuro - A Salvação) representa, em Checov, nosso próprio espírito juvenil ao embarcar numa aventura inacreditável.
E é bem isso o novo Star Trek: uma aventura espacial sexy, saborosa, que equilibra a perfeição as funções de ser um candidato a blockbuster (e, pode acreditar, a Paramount pode abrir o cofre para receber rios de dinheiro) com a arte de ser cinema, de ser espetáculo, de ser um filme que merece ser visto e revisto para que seus detalhes, seu humor, seu suspense e sua emoção seja degustada em detalhes e de forma plena. Nas mãos de Abrams, Star Trek pode esperar - e lá vem mais um clichê inevitável - uma vida longa e próspera.
Star Trek não é um filme perfeito. É infeliz em sua geografia, é exagerado em suas coincidências. Ah, e é também o melhor filme que vi neste ano que se aproxima da metade. Preciso apertar a mão de J.J. Abrams mais uma vez. De uma tacada só, ele ressuscitou uma série que, para todos os efeitos, morreu há mais de uma década, e também criou uma nova franquia do zero, fresquinha fresquinha, que vai nos levar (e eu sei que essa frase vai ser usada até enjoar) audaciosamente onde ninguém esteve antes.
Afinal, por que diabos o novo Star Trek é tão bom? Hmmm, eu poderia chutar que é pelo respeito ao que a saga criada por Gene Roddenberry significa para tanta gente. Mas não é só isso. O que Abrams fez foi criar uma aventura espacial de primeira, como John Whedon fizera com Serenity, e embalar em frascos conhecidos. Kirk, Spock, McCoy - todos figurinhas icônicas da ficção científica, aqui reapresentados como se fosse mesmo a primeira vez, para uma platéia que não faz idéia do que é o universo Trek. Dito isto, afirmar que Star Trek funciona que é uma beleza para não-iniciados é balela: o filme é coalhado de referências a capítulos anteriores, a termos que só os fissurados vão entender (velocidade warp? Por favor!). O brilhantismo de Abrams é que ele amarra o roteiro de maneira tão saborosa que tudo isso soa natural, soa novo. E soa como um ótimo negócio.
Daí, palmas para a Paramount, que armou este reboot depois que os últimos filmes, os protagonizados pela Nova Geração de Pickard, não fizeram nem marola. Na verdade, é hora de escancarar uma verdade aqui: apesar do carinho dos fãs, Star Trek no cinema sempre foi capenga ao extremo, entregue a sub-talentos, e nunca a uma equipe da primera divisão do cinema. Com a exceção do filme que Robert Wise dirigiu em 1979, uma trama contemplativa que falhou com o objetivo principal que era concorrer com Guerra nas Estrelas. Falhou miseravelmente. A partir daí, Trek gerou um semi-clássico (A Ira de Khan, que é tão bacanudo quanto tosco) e uma série de tranqueiras, que resistem ao tempo por seu valor kitsch. O novo Star Trek, por outro lado, é um filme de verdade, que utiliza o melhor da tecnologia cinematográfica atual para contar a história de dois homens, e de como seu destino espelha o futuro do universo.
Um deles é, claro, James T. Kirk - que deixa o charme cafona de William Shatner de lado para brilhar com Chris Pine que, se depender de Trek, vai longe. Nascido em meio a uma tragédia, quando seu pai assume o comando de uma espaçonave e se sacrifica para salvar sua tripulação, Kirk é um jovem sem propósito, que quer honrar a memória do pai que nunca conheceu, ao mesmo tempo que não suporta figuras de autoridade, como as da Frota. Depois de uma briga num bar, ele conhece Christopher Pike (Bruce Greenwood, um achado), que está recrutando cadetes. Kirk é convencido e parte para a academia.
O outro vértice é Spock (Zachary Quinto, o Sylar da série Heroes, mas eu prometo que você nem vai pensar nisso), nascido em Vulcano, dividido entre sua herança paterna e o lado de sua mãe, que é humana. Ele já é graduado pela Academia da Frota Estelar e, em seu mundo de lógica - para tentar suprimir o oceano de emoções movendo-se sob sua carapaça -, vê em Kirk e seu espírito livre um antagonista. O equilíbrio entre os dois é o que define a nova aventura, e também o destino do planeta. Abrams consegue com habilidade essa costura, usando um clichê (duas pessoas que se odeiam, mesmo destinadas a ser os melhores amigos) de maneira brilhante, fazendo com que a trama respire ao redor desse eixo.
A trama, por sinal, é simples - em termos trekkers. Nero (Eric Bana, ameaçador) é comandando de uma nave mineradora, uma espécie de caminhoneiro bronco que testemunha, um século e meio no futuro, seu planeta ser tragado pelo Sol. A culpa da tragédia recai sobre um enbaixador vulcano, muito velho e muito sábio (e muito conhecido), e em sua tentativa de vingança Nero cria uma fissura no tempo, que o traz ao passado (ao lado deste embaixador). É esse um dos grandes baratos do novo Star Trek: o vilão tem motivações simples, porém palpáveis. Longe de ser um gênio do mal, é um homem (ou romulano) comum, que vê o tempo amadurecer seu desejo de vingança, firme até o final.
Em meio à resolução da trama, somos apresentados à tripulação da Enterprise, reunida pela primeira vez. McCoy, ou Magro, é interpretado por Karl Urban (O Senhor dos Anéis) em um registro assustadoramente semelhante ao de DeForest Kelley, seu intérprete na série clássica. Fuinciona que é uma beleza, e ainda bem que Urban foi o único que seguiu os passos do ator que foi dono de seu personagem. Cada um dos outros imprimiu novas nuances a figuras já icônicas. Como Zoë Saldana (que será vista no fim do ano em Avatar), que faz uma Uhura sexy e determinada, protagonista do mais improvável romance da nova Enterprise; John Cho (da série Harold & Kumar) funciona perfeitamente como Sulo, em especial numa cena de ação inacreditável ao lado de Kirk/Pine; o engenheiro Montgomery Scott torna-se um bem vindo alívio cômico nas mãos de Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto); e Anton Yenshin (que em breve estará em cartaz em mais uma ficção científica, O Exterminador do Futuro - A Salvação) representa, em Checov, nosso próprio espírito juvenil ao embarcar numa aventura inacreditável.
E é bem isso o novo Star Trek: uma aventura espacial sexy, saborosa, que equilibra a perfeição as funções de ser um candidato a blockbuster (e, pode acreditar, a Paramount pode abrir o cofre para receber rios de dinheiro) com a arte de ser cinema, de ser espetáculo, de ser um filme que merece ser visto e revisto para que seus detalhes, seu humor, seu suspense e sua emoção seja degustada em detalhes e de forma plena. Nas mãos de Abrams, Star Trek pode esperar - e lá vem mais um clichê inevitável - uma vida longa e próspera.
2 comentários:
Parabéns por trazer essa maravilhosa Avant-Premiére, Demétrius. Quando puder, eu passo lá na locadora.
Um grande abraço,
Dihelson Mendonça
O filme esta tendo boas repercussões, e a vontade de ver uma obra de J.J Abrams é sempre de curiosidade e diversão garantida. Mas, com este filme talvez eu comece a olhar Star Trek (a série)com novos olhos.
Postar um comentário