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POR QUE TÃO CEDO NÃO VEREMOS 007 - POR ANA MARIA BAHIANA


A Entertainment Weekly desta semana traz na capa um assunto um pouco deprimente: o possivel fim de um dos personagens mais famosos e queridos do cinema, James Bond. A questão, que a EW sumariza em linhas gerais e um pouco alarmistas, é a incerteza e confusão que imperam, hoje, sobre os direitos cinematográficos da franquia.
 Em 1960 Ian Fleming fechou um acordo  com os produtores Harry Salzman e Albert  “Cubby” Broccoli para os direitos de adaptação cinematográfica de sua série de livros em torno do personagem James Bond, o agente 007 (cujo nome Fleming tomou emprestado de um conhecido, um ornitólogo norte-americano, nascido na Filadélfia, curador de pássaros da Academia de Ciência Naturais de sua cidade natal e autor da obra definitiva sobre sua especialidade, as aves do Caribe: Birds of the West Indies). O acordo foi bancado (por 1 milhão de dólares) pela United Artists, então o mais forte dos estúdios independentes de Hollywood., e a UA tornou-se dona de todos os direitos de produção e distribuição dos filmes com o personagem, e, vinte anos depois, controladora dos direitos de adaptação, também.
 Em 1981, à beira da falência depois do desastre monumental de Heaven’s Gate, o filme de Michael Cimino que custou 30 milhões de dólares e ficou em cartaz menos de uma semana (leiam detalhes no livro de Peter Biskind que tive o prazer de traduzir: Easy Riders, Raging Bulls) a UA foi comprada pelo bilionário Kirk Kerkorian, e anexada ao outro estúdio de sua propriedade, a MGM.
 Começou aí, na verdade, a via crucis da marca United Artists, ilustre desde sua fundação , em 1919, por D. W. Griffith, Charlie Chaplin, Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Durante três décadas o pacote MGM/UA foi trocando de mãos, com resultados quase sempre desastrosos.  Durante meus anos nas trincheiras do jornalismo de trade, a piada mais comum na redação era: quando não houver nada acontecendo, escreva algo sobre a MGM/UA, porque com certeza algum desastre rolou por lá.
 A penúltima encarnação da pobre MGM/UA foi aquela de 2006 que tinha Tom Cruise e sua sócia Paula Wagner como donos (não são mais). E agora, mais uma vez, a marca – com seu notável acervo de direitos, mais  4 000 filmes  e 10 600 episodios de series de TV, que rendem, em média 500 mil dólares ao ano, 30% dos quais graças ao agente 007– está com destino incerto. O candidato mais provável é a Lionsgate – irônico não apenas pelo nome (o leão da Metro achou outro leão…) mas também pelo fato da Lionsgate ter começado como uma pequena independente canadense.
 Mas a Lionsgate está ela mesma no meio de uma briga por controle acionário – e enquanto isso os “sets James Bond” em Pinewood, perto de Londres, continuam vazios, em compasso de espera. Sam Mendes seria o diretor do novo 007, com roteiro de Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon) e Daniel Craig de volta como Bond. Mas com a nebulosa situação dos direitos, a produção foi suspensa sem data para começar – Craig foi trabalhar na refeitura de outro cult sueco, The Girl With the Dragon Tattoo, e Mendes começa mes que vem a rodar  On Chesil Beach, adaptação do livro de Ian McEwan com Carey Mulligan.
 Enquanto isso, Christopher Nolan – que rodou grande parte de Inception/A Origem nos sets James Bond, e credita os primeiros filmes da saga como influencia em sua obra – está doidinho para ter licença para matar…. Isto pode ser muito interessante, no final das contas...

Por Ana Maria Bahiana

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