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A ORIGEM DE UMA ARQUITETURA PERFEITA

Este texto foi escrito Por Ana Maria Bahiana, e posto aqui no blog por achar fantástico, não poderia descrever algo melhor em um dos filmes mais influentes (não querendo ser um oráculo) que eu tive o prazer de assistir desde Matrix. Talvez ele componha conjunto a Matrix (década de 90) e Blade Runner (década de 80) respectivos em suas épocas como uma das melhores coisas que a ficção científica viu. Ele pode ser complicado de compreender de cara, mas não tanto como compreender A Saga Crepúsculo em ser um fenômeno sem precendentes. A Origem forma uma arquitetura perfeita do que diz respeito a um homem chamado Christopher Nolan, que definitivamente ama cinema a qualquer custo e é visível isso na composição de um roteiro complexo/ou complicado se transformar em algo cult e inigualável. Ficará preso na garganta, guardado na retina e ecoando em nossa mente por muito tempo. Para quem simplesmente ama cinema, sentir isso será normal, mas para quem desfruta como um espectador (digamos normal, aquele que vê "filmes") pode ser um deleite que mudará a forma de pensar ou de agir quando se entra numa sala de cinema. Aproveitando a ducha, veja Um Homem Sério com esse olhar renovado, você entenderá o que eu quero dizer... Ou definitivamente não. Non, Je Ne Regrette Rien para vocês...

Nota do filme A Origem: 9,5

 

 

Resenha de Ana Maria Bahiana

Inception/A Origem : como um trem de carga pelo meio da sua cabeça

Com todas as virtudes (e são muitas) que os bons filmes têm, poucas são as obras audiovisuais de mercado que atacam de frente a questão mais fascinante de todas as que o cinema pode propor: como nós, na platéia, vemos, compreendemos e adicionamos significado àquela sucessão de imagens em movimento? Que maravilhosa engenharia (ou arquitetura, para repetir um conceito nolanesco) nos possibilita criar histórias a partir daquilo que vemos, e dar a essas histórias elementos de emoção, memória e até paixão que trazemos do fundo de nossa alma e colocamos, como uma oferenda a um deus antigo, no altar da tela?

Inception/A Origem, de Christopher Nolan, faz exatamente isso. Nem mais, nem menos.

Não é pouca coisa. É o que os surrealistas sonharam, o que Buñuel propôs ao cortar o olho e Cocteau imaginou ao colocar a Bela no palácio da Fera. É a possibilidade da narrativa ser a história, do continente ser o conteúdo. A encruzilhada onde filme e sonho se encontram mais perfeitamente.

Desde o início de sua carreira (e dou uma dica aqui: Following, seu filme de estreia, de 1998, contém a semente de Inception) Nolan tem explorado essa encruzilhada, propondo novos modos de construir uma narrativa (Amnesia), estudando os conceitos de real/irreal (O Grande Truque). Consta que o roteiro de Inception estava escrito há nove aos. Acredito – é obra ao mesmo tempo íntegra, coerente com as ideias originais do realizador, e madura, apurada em outros projetos através de tentativa e erro . 
Infelizmente, é um desses filmes sobre os quais quanto menos eu falar, melhor. É praticamente impossivel descrever sua história sem inundar a tela de spoilers. Por isso direi apenas o seguinte: Cobb (Leonardo di Caprio) é um “extrator”, um profissional capaz de invadir sonhos alheios para dali roubar segredos industriais, de estado ou o que for. Esta arte ele aprendeu com o sogro (Michael Caine) e ela lhe trouxe vasta fortuna mas também sérios esqueletos em seu armário, quase todos ligados à sua mulher, Mal (Marion Cotillard). Contratado por um executivo poderosíssimo (Ken Watanabe) para uma missão quase impossível, Cobb tem que arriscar tudo no frágil mundo que é sua vida pessoal.

Fiquemos por aqui. Posso acrescentar apenas que este é filme para se ver de olhos bem abertos, prestando atenção a tudo – porque o modo como a história está sendo contada é, essencialmente, a própria história. Como bem disse Peter Travers em sua resenha na RollingStone.com, Inception vai contra a corrente que presume que todo espectador é um idiota e portanto todo filme tem que ser ex-pli-ca-di-nho, bem mastigado e bem condescendente. Inception exige o investimento da inteligencia, da lucidez e do raciocínio ligados à toda. E mesmo assim você se perde no caminho, porque os labirintos de Nolan são melhores que os da personagem Ariadne (Ellen Page), ela do nome mitológico como o da princesa que salvou Teseu do Minotauro.

Preste atenção `as paisagens. Preste atenção à agua, aos espelhos, ao trem que tão frequentemente parte a tela em dois. Preste atenção ao que as pessoas dizem, e quando elas dizem. São chaves para o labirinto.  
Note algo importante: como Nolan compreende de verdade que sonhos são experiências orgânicas, alimentadas pelo que sentimos, tocamos, provamos e ouvimos enquanto acordados, informados pelos sentidos, formatados por nossas emoções. Por isso escolheu , em vez de cenários virtuais, locações de verdade, no Canadá, Los Angeles, Paris, Tóquio, Marrocos; e efeitos mecânicos, diante da câmera, no lugar dos digitais, sempre que possível. É uma das mais importantes virtudes do filme, e o modo mais poderoso como Nolan imediatamente nos conecta com seu mundo – porque, de fato, estamos compartilhando uma experiência que, mesmo que nem sempre conseguindo descrever, sentimos e vivemos profundamente. Sonhos não são delírios virtuais - erro de muita gente que se arrisca por esta seara- mas experiências reais, multidimensionais e sensuais, enquanto estamos neles. Inception compreende isso gloriosamente.

A maravilhosa trilha de Hans Zimmer, uma mistura equilibradissima dos sons naturais de uma grande orquestra (mais a guitarra lírica de Johnny Marr) e de uma bateria de manipulações digitais, forma a atmosfera perfeita para esta experiência.

Se eu fosse fazer uma ressalva à tremenda viagem que é Inception eu diria isso – que é fácil se perder nele. Mas considerando o nível de idiotice da maioria dos filmes este ano, estou achando ótimo.

Acrescento que, fiel à sua trajetória, Nolan –roteirista e produtor de Inception, além de diretor – quebra meia dúzia de regras do status quo de bem fazer cinema. Quebra bonito, com convição, elegância e a certeza de que só quem sabe muito de cinema pode se dar a esse luxo. Por exemplo: o filme é praticamente todo exposição. E que perfeição de exposição. 
Eis aqui por que tenho este nível de admiração por um filme deste tamanho, feito com estes valores de produção e este elenco (todos ótimos, aliás): porque um filme desta envergadura, realizado com esta ambição e esta inteligência, pode tocar fundo a alma de milhões de pessoas pelo mundo afora. Pode fazê-las pensar, pode provocá-las, confundi-las, sacudi-las. Pode desafia-las a ver o mundo com olhos novos e observar de outros ângulos o papel do cinema no mundo.

Se esta não é a vocação mais profunda da imagem em movimento, então não sei qual é.

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